domingo, 23 de setembro de 2007

Eleições e Eleitores

Depois do primeiro processo eleitoral, tido lugar no nosso País completamente traumatizante e frustrante, que defraudou todas as expectativas e esperanças do povo angolano, vão se aproximando a passos largos as segundas eleições legislativas e presidenciais em Angola.Se para alguns sectores, este processo é o renovar das esperanças e o sinónimo da consolidação da democracia em todo o País, para outros sectores principalmente para as zonas rurais e para aquelas províncias que sofreram de forma violenta, directa e dramática as consequências resultantes de um processo muito mal concebido, prevalece um sentimento de medo, insegurança, pessimismo, incredulidade em relação aos benefícios que este processo podetrazer para a vida de todos os cidadãos.Hoje por hoje, prevalece em muitos sectores a ideia de que eleições e guerra são palavras sinónimas.Como docente de Psicologia Social fui convidado por algumas pessoas conhecidas e amigas a fazer uma abordagem sobre esta temática a qual acedi com muito prazer.Influencia do ambiente Social no comportamento dos eleitores.A influência social inclui os sentimentos, qualidades relativas a força de vontade, concepções, ideias, interesses, pontos de vista e teorias que surgem inevitavelmente num determinado período histórico, dentro de grandes grupos sociais. A influência social quanto ao seu conteúdo é a reflexão psíquica ideal do ser social e em primeiro lugar das condições de vida material dos homens.A influência social tem uma estrutura complexa, nela se destacam diversas formas e níveis que estão em interligação e interacção que são os seguintes:A influência política, estética, ética, religiosa e filosófica. Porem estas formas fundem-se na consciência social real, pois, os grupos sociais de homens reflectem-se de forma directa na consciência social real, porquanto os grupos sociais reflectem os fenómenos sociais na íntegra.A influência comum em relação a influência social no comportamento dos eleitores, forma-se normalmente de um modo espontâneo enquanto a ideologia deve ser elaborada conscientemente. A formação espontânea da consciência, parte de diversos estímulos e motivos ou visam um determinado objectivo. Entretanto o comportamento dos eleitores é produto da actividade espiritual das pessoas que têm a consciência individual.Mas o que é a influencia social?De entre vários conceitos escolhemos um que achamos adequar-se mais a nossa realidade assim:Influência social é a modificação desencadeada, nos julgamentos, opiniões e atitudes de um indivíduo, pelo facto de tomar conhecimento de outrem sendo este facto visto pelos psicólogos sociais como um caso particular de interacção social.De que forma o ambiente social influencia no comportamento dos eleitores?A influência do ambiente social no comportamento dos eleitores explica-se igualmente pela existência de pressões sociais mais ou menos explicitas, para o compromisso social. A recusa ou transgressão conduz ao isolamento social, a marginalização e a aplicação de sanções.A unanimidade de opiniões dos eleitores também é um factor que favorece o comportamento fácil, promíscuo e propicia a inexistência de opiniões divergentes. As pessoas com um nível elevado de auto estima, tendem a manifestar independência nas suas opiniões e por isso escolhem ou votam em consciência. Pessoas com auto estima baixa, isto é com menos auto-confiança apresentam com mais frequência, comportamentos conformistas durante as eleições.Quando falamos de compromisso social, pretendemos referir a tendência que o indivíduo tem em se comportar segundo o que está socialmente estabelecido, face as condições objectivas do ambiente social.Teorias Sobre o comportamento eleitoralAs análises sobre o comportamento eleitoral, podem ser divididas em dois grandes grupos: um de matriz analítica macrossocial e outro microssocial, também conhecido como individualismo metodológico. Em ordem cronológica, a primeira perspectiva considera factores estruturais, culturais e históricos como formadores das esferas sociais, económicas e políticas de uma sociedade. Estes factores impem clivagens sociais que na esfera politica são representados por diferentes candidatos com os quais com os quais parcelas do eleitorado identificar-se-ia ou manifestaria o seu apoio ou oposição.Ainda nesta perspectiva, a analise marxista enfatiza a importância de determinantes económicas e da estrutura de classes como principais elementos de identificação entre líderes e liderados.Por outro lado, uma corrente marxista, chamou a atenção para a variedade cultural a partir da qual se formam as clivagens sociais. Para ela, o comportamento eleitoral deve ser explicado pelo ambiente sócio cultural em que vivem os eleitores e não simplesmente pela diferença entre classes sociais.A perspectiva macrossocial considera que grupos sociais distintos têm interesses diferentes e buscam uma representação política própria por meio de líderes que representam os interesses do grupo. Este seria o facto que faria o eleitor direccionar o seu voto para um ou outro candidato ou também pelo não voto. Assim, a influência do grupo é um importante elemento explicativo da escolha eleitoral, pois, pessoas que trabalham e vivem juntas tendem a votar nos mesmos candidatos. De acordo com esta perspectiva, ganham importância os elementos psicossociais para a determinação do voto e aparece como figura relevante a figura do líder de opinião. O líder de opinião de determinado grupo social consegue comunicar-se com os seus iguais influenciando na tomada de decisão do voto. Ele possui uma posição central no grupo a que pertence e isto garante-lhe melhores condições de recepção das informações e difusão de opiniões.Esta abordagem psicossocial na corrente macrossocial permite um avanço na teoria; até então era incapaz de explicar a variações de comportamento eleitoral dentro dos grupos sociais, essas variações de comportamento são explicadas pelo surgimento ou substituição de líderes de opinião. Alem disso a corrente psicossociologia considera como elementos determinantes do comportamento eleitoral, percepções do próprio processo, tais como a identificação do candidato vencedor, o sentimento de obrigação de votar em uma disputa e outros mais. Sendo assim, alem das clivagens das clivagens histórica, social e cultural dos grupos, os indivíduos apresentariam subclivagens de comportamento eleitoral, dado que o comportamento final dependeria de seus graus de interesse e informação a respeito das eleições.A perspectiva microssocial abordada por Antony Downs nos finais de 1950 refere que seria possível explicar os comportamentos políticos considerando que os indivíduos são racionais e agem intencionalmente, procurando maximizar os seus ganhos, tal como fazem os consumidores no mercado económico. Sendo assim, os efeitos do grupo seriam secundários na definição do comportamento eleitoral, mas não rejeitados. De acordo com esta corrente, o eleitor toma duas decisões relacionadas entre si:1- Participar ou não no processo eleitoral2- Escolher determinado partido ou candidato – sempre considerando que adecisão tomada seria
a melhor para ampliar os seus ganhos individuais.Downs, chama também atenção para o facto de que a ideologia pode ser considerada um factor simplificador do universo político, uma vez que teria principalmente, um carácter instrumental, facilitador do processo da tomada de decisão como uma espécie de atalho.Uma vez que contribui para a caracterização dos partidos, a ideologia é um dos meios para obterem-se votos. Do ponto de vista dos eleitores, ela passa a ser um recurso económico que diminui os custos de procurar informações a respeito dos partidos e dos candidatos, ou seja. Esta teoria apresenta um carácter microssocial até mesmo para fenómenos considerados predominantemente macrossociais, como é a situação da ideologia.Parece claro que as diferentes correntes apresentam explicações incompletas para o comportamento eleitoral contemporâneo, na medida em que o eleitor é encarado como um sujeito que decide racionalmente em quem votar, mesmo que essa escolha seja condicionada pelo contesto em que este se insere. Como todo o voto é uma acção intencional, logo racional, trata-se de uma acção voltada para alcançar de forma mais eficaz os objectivos pretendidos por cada eleitor. O importante é não esquecer que os actores políticos agem em situações estruturais e institucionais específicas.Estas situações condicionam a suas opiniões, atitudes seus objectivos e os instrumentos de que dispõem para perseguirem os seus objectivos. Por isso, análises recentes levam em conta por um lado factores sócio-económicos e demográficos, além dos politico-institucionais e por outro, a dimensão subjectiva e cognitiva do eleitor.Há varias formas de abordagem do comportamento eleitoral, de maneira directa ou indirecta. Ainda assim, apesar dos avanços nas teorias é comum encontrar na literatura, tratando de maneira não central a ideia de que o eleitor tem efectivamente uma opinião politica que gera um comportamento eleitoral que pode ser mutável ou volátil, seja quando movido pela busca da maximização dos seus ganhos pessoais seja quando movido em função de constrangimentos dogrupo social a que pertence, este comportamento e as opiniões são constantemente cambiáveis. Não se deve acreditar na existência de eleitor maioritário que apresente um comportamento eleitoral estruturado rigidamente de maneira que seja constante e totalmente previsível.Opinião Pública e Volatilidade EleitoralEm sociedade, as pessoas sempre procuram opiniões coerentes com as opiniões gerais do grupo a que pertencem. Para isso seleccionam informação e mensagens que recebem prestando atenção aquilo com que concordam e privando-se do que as desagrada.Ao desprezar mensagens contrárias as atitudes do grupo, os homens vêm estas mesmas atitudes nos companheiros que exibem tendências colectivas similares.Isso não significa que todos recebem e processam exactamente a mesma quantidade ou tipo de informação, ou que sejam influenciados pelos mesmos aspectos da vida social.Cada pessoa tem o seu conjunto particular de experiências e o seu próprio grupo de dados mesmo seleccionando e julgando o social de acordo com padrões gerais comuns. É fundamental estudar em que condições as atitudes geradas pela dinâmica de grupo se modificam. Influencias regionais ou de realidade próximas podem gerar um padrão comportamental que determinará um maior ou menor grau na decisão do voto. Por isso é válido estudar os resultados eleitorais a partir de recortes geográficos.É preciso considerar, de maneira complementar que os homens nas sociedades modernas não pertencem a um único grupo, existem posicionamentos anteriores e de largo aspecto como classe social, cultural e padrões que decorrem da faixa etária ou da região, grau de participação na comunidade, como local de trabalho e família onde o processo de socialização é fruto de influências mútuas entre os elementos do grupo.Outro factor interveniente no comportamento eleitoral volátil é a já citada figura do líder de opinião. Dentro dos grupos não há uma homogeneidade de participação politica entre as pessoas. Sempre existem aqueles que são mais activos e capazes de expressar-se, normalmente mais sensíveis aos interesses do grupo e mais ansiosos de se manifestarem em momentos importantes. Uma das funções destes líderes é a medição entre os meios de comunicação e os demais componentes do grupo, pois sabe-se a mais de meio século que os efeitos dos meios de comunicação social não são iguais em todos os integrantes de determinado grupo.Alem do líder de opinião, outro factor indispensável para a análise do comportamento eleitoral volátil tem sido o efeito da mídia na política. As novas características dos processos eleitorais inseridos no sistema de comunicação de massas são identificados como “democracia de público” de acordo com a metáfora de Bernard Manin (1995).Segundo a teoria da escolha racional, considera-se que a decisão do voto é produto da acção racional individual e orientada por cálculos de interesses pessoais. Tendo em vista o objectivo de maximização de ganhos, o eleitor decide em quem votar a partir da análise dos benefícios que se podem obter no caso de vitória do candidato desejado. De acordo com esta teoria, o eleitor em função dos seus interesses é capaz de seleccionar partidos e candidatos em ordem de preferência e optar por aquele que lhe possibilita a obtenção de maiores ganhos.ConcluindoTal como vimos no início a influencia comum forma-se normalmente de um modo espontâneo. Porem o ambiente quotidiano elabora os pontos de vista e determina os objectivos. A psicologia social ensina-nos que a influencia do ambiente sobre o comportamento dos eleitores por meio da agitação, propaganda, dos sentimentos de solidariedade de classes amizade ou de hostilidade, de interaccionismo ou nacionalismo simpatia de status ilusões, convicções, ideais, vontade e ainda por indução psicológica.A influência do ambiente social no comportamento dos eleitores aplica-se igualmente a partir da consciência jurídica, moral, ética e estética.Referências Bibliográficas:• Krapirine,v- Fundamentos metodológicos e métodos de estudo da Filosofia Edição Progresso, 1986.• Braga da Cruz, M - Teorias sociológicas ( os fundadores e os clássicos)• Alain Cerclé/Alain Somat- Manual de Psicologia Social (Epigenese, desenvolvimento
e Psicologia).• Gleitman, Flenry- Psicologia, Norton& Company, in New York• Rodrigues, aroldo/ Asmar, eveline maria leal/ Jablonski, bernardo, Psicologia Social 22ª edição editora vozes Petrópolis 2003.

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